domingo, 21 de março de 2010

Dream Theater abala as estruturas do Credicard Hall no Rio de Janeiro...







Munido de um repertório de apenas nove músicas, o quinteto americano Dream Theater tocou durante nada menos que duas horas na noite desse sábado, dia 20, no Citibank Hall. Bem como em outros shows recentes da banda no mesmo local, em 2005 e em 2008, o público de 5.000 fãs que esteve presente desta vez vibrou com o virtuosismo impecável dos instrumentistas e com os vários estados de espírito suscitados pelas canções de longa duração, uma característica típica do rock progressivo.

A junção desse gênero musical com o peso do heavy metal e com uma técnica sobrenatural que remete ao jazz compõe a receita de sucesso do Dream Theater, que não precisou gastar lábia ou fazer uso de efeitos especiais para conquistar a plateia.
A introdução do show dava uma boa amostra da individualidade da banda. Enquanto bandas de heavy metal tradicional como o Iron Maiden utilizam áudios de rock para avisar a seus fãs que o espetáculo está para começar (no caso do Maiden, é usada a música "Doctor doctor", do UFO), o Dream Theater pôs nos autofalantes músicas instrumentais ao violão. Em seguida, vieram versões acústicas com um vocal feminino de duas canções bem conhecidas do grupo, "As I am" e "Pull me under", cantadas pelo público em massa.

O show começou de verdade com outra breve introdução instrumental, já com volume bem mais alto, da genial trilha-sonora de Bernard Hermann para o filme "Psicose". Os acordes secos e macabros de violinos dessa trilha foram emendados com os teclados igualmente sinistros da música "A nightmare to remember", iniciada às 22h35m, portanto com meia hora de atraso.
O palco era simples, com o baterista Mike Portnoy numa plataforma elevada central ao fundo, o tecladista Jordan Rudess na lateral esquerda traseira e os outros três integrantes à frente.

Além de dois telões ladeando o palco, que fazem parte da estrutura do Citibank Hall, havia um terceiro atrás de Portnoy.
Neles, eram projetadas animações computadorizadas de imagens da arte gráfica do último disco da banda, "Black clouds & silver linings" (de 2009). Em "A nightmare to remember", por exemplo, um corredor por onde passam elefantes ganhava vida nos telões. Faixas prateadas penduradas no teto, junto aos refletores, faziam referências às "silver linings" do título do disco. O público cantou a letra quase toda de "A nightmare to remember", que tem quase 20 minutos de duração, mostrando que recebeu bem o último CD.
Seguiram-se duas músicas antigas, "The mirror" e "Lie", ambas do do álbum "Awake" (de 1994), igualmente empolgantes.

Então, o vocalista James LaBrie falou ao público que aquela era a última noite do Dream Theater no Brasil e a banda queria ir embora com um arraso. Foi o único discurso que o cantor fez, e, em momento algum, tentou falar algo em português para ganhar a simpatia do público.
Nem era necessário. A fluência do Dream Theater se dá na linguagem da música. LaBrie estava em boa forma vocal, administrando bem os agudos de músicas antigas como "The mirror" e "Take the time", que foi a última antes do bis.

Ele também correu bastante pelo palco, igualando-se em presença artística ao baterista Mike Portnoy, que, em vários momentos, tocou de pé, fez palhaçadas para a câmera que o filmava (como enfiar uma baqueta no nariz) e, durante a música "Solitary shell", deu uma performance surreal, saindo de seu banco para tirar sons da estrutura externa da bateria e até de pedestais de microfones.
Fosse qualquer outro baterista, essa poderia ser uma tremenda patacoada. Com Portnoy, o maior baterista da História do rock (sem desrespeito ao segundo melhor, Neil Peart, do Rush), aquilo até pareceu natural. O público respondeu com sinais de veneração, como quando Neil Peart fez um mirabolante solo de bateria no show do Rush no Maracanã.

Em "Solitary shell", o guitarrista John Petrucci fez seu solo mais jazzístico, alcançando velocidades supersônicas. Jordan Rudess também mostrou habilidade ao teclado, numa base giratória de 360 graus, que permitia que as teclas ficassem voltadas para o público em várias partes do show. Em determinados momentos, um alter ego do tecladista em forma de mago computadorizado aparecia tocando teclado nos telões. Depois da música "A rite of passage", o bonequinho virtual até fez um 'duelo' com o tecladista de carne e osso (e barbicha branca esquisitona).
Durante quase todas as músicas, havia duetos de Petrucci e Rudess, que eram mostrados nos telões divididos ao meio entre os dois instrumentistas. A técnica de ambos beira a perfeição e substituiu com louvor fogos-de-artifício e outros efeitos visuais empregados por bandas normais. Num show do Dream Theater, veem-se fãs apontando para o palco e exclamando: "Olha aquele arpeggio!". Solos incríveis eram aplaudidos, como em shows de jazz, porém por um público majoritariamente vestido com camisas de bandas de metal.

A canção "Sacrificed sons" foi ilustrada nos telões com reportagens do 11 de setembro de 2001, enquanto "In the name of God" trouxe imagens do lunático David Koresh e do massacre que ele promoveu em Waco, Texas, em 1993. O Dream Theater variou bastante o setlist (repertório) em seus shows por cidades brasileiras. Em comum com o que foi apresentado em Porto Alegre e em São Paulo, contavam-se apenas três músicas, "A nightmare to remember", "A rite of passage" e a que fechou todos os shows, "The count of Tuscany".


As três vêm do último disco da banda. Em comunidades virtuais de fãs, antes dos shows, já se ouviam lamentos por o quinteto não estar tocando, nesta turnê, outras músicas do CD de 2009. É um caso raro de uma banda com mais de 20 anos de existência que não se sustenta em clássicos do passado, mas continua relevante a cada novo disco.

retirado do globo.com

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